domingo, 13 de março de 2011

AS DUAS JANELAS

AS DUAS JANELAS


Ao olhar pela janela da casa, do apartamento, da cabana ou do carro, você pode deslumbrar tanto a doçura quanto a amargura. É possível que alguma janela dê de frente para algum córrego mal cheiroso, algum lixão exposto, alguma sujeira jogada propositalmente ou um local deserto, morto, sem vida, o que nos faz perder o desejo de querer abrir a janela. Outra janela pode ser aberta para um jardim de lindas flores, com pássaros voando e cantarolando, lindas borboletas, um caudaloso rio límpido, um edifício imponente com vitrais decorativos. Ao fazer a escolha de qual janela abrir, muitos irão optar pela mais bela, atrativa, enquanto que a outra, bem, a outra permanecerá sempre fechada com tranca de ouro, e a chave será jogada pela fresta do lado da sujeira para nunca mais ser aberta.

Parece que existe um mal imposto no coração do homem que a todo custo não deseja abrir a janela da imundícia. Ela sempre será rejeitada, maltratada para não perceber a sujidade que está exposta do outro lado. Interessante é que o dono da janela faz de tudo para tentar esconder essa podridão, aparentemente escondida dos amigos e parentes. Não adianta, quem está de fora da janela, enxerga com muita clareza porque a sua visão não está embaçada, e o sol brilha muito mais forte do lado de fora. Muitos destes, como que sendo os mais perfeitos sobre a face da terra, a todo instante reclamam: “como ele deixou chegar a esse ponto?”, “será que ele não se interessa em fazer uma limpeza total?”, “ah! se essa janela fosse a minha, não estaria tão desprezada assim!”, “estou a ponto de avisar-lhe que esse lixo está incomodando a todos e já não existe possibilidade de suportar tanto desprezo!”, “de fato, esse desprezo é uma afronta a natureza criada por Deus”.

Ao olhar para o interior do homem, percebe-se a existência dessas duas janelas, uma fechada e outra bem aberta. Embora sendo invisível, uma é sobreposta à outra a ponto do proprietário “[...] nem mesmo compreender o seu próprio modo de agir, pois não faz o que prefere, e sim o que detesta” (Rm.7.15). As duas aberturas devem ser bem observadas a fim de que os reparos sejam feitos periodicamente para perceber claramente que “[...] na (sua) carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem [...] (deseja); não, porém, o efetuá-lo” (Rm.7.18). Tanto uma quanto a outra necessitam dos cuidados diários para que o próprio “[...] Deus sondar [...] e conhecer o seu coração, provar e conhecer os seus pensamentos” (Sl.139.23) a fim de que haja limpeza completa e verdadeira do quintal, ou porque não dizer, do coração.

Escancare bem as janelas para entrar claridade, “a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo.1.9) para que a parte de fora da outra janela seja contaminada pela beleza e doçura da que isso oferece.

Rev. Salvador P. Santana

Nenhum comentário:

Postar um comentário