A IGREJA DA PROSPERIDADE, 1Tm.6.3-19.
Introd.: O suposto
crescimento da igreja evangélica brasileira se deve muito à expansão do
neopentecostalismo, responsável por uma teologia de prosperidade física e
material.
Vamos analisar o movimento
neopentecostal que dá ênfase na saúde e no dinheiro.
Faremos uma análise do ponto de
vista histórico, hermenêutico (interpretar), teológico e bíblico desse
movimento.
I – O pentecostalismo e o neopentecostalismo.
A teologia
da prosperidade é uma característica do movimento neopentecostal, não de todos
os carismáticos.
Historiadores
dividem o movimento carismático em três ondas:
1ª Onda
– Surgimento do pentecostalismo clássico.
Congregação
Cristã no Brasil – 1910 – Pará – italiano Louis Francescon, Italiano;
Assembleia
de Deus – 1911 – Pará – Gunnar Vingren e Daniel Berg.
Ambas dão
ênfase a orar em línguas estranhas.
Essas duas
igrejas dominaram o campo pentecostal por quarenta anos, pois as opções eram
poucas e também inexpressivas.
2ª Onda
– Focou cura, renovação e orar em línguas.
O
pentecostalismo de segunda geração teve início com as igrejas:
Igreja
do Evangelho Quadrangular – 1951 – SP – Harold Edwin Williams;
O
Brasil para Cristo – 1955 – SP – Manoel de Mello e Silva – dissidência
nacionalista da Igreja do Evangelho Quadrangular;
Deus é
Amor – 1962 – SP – Davi Martins Miranda oriunda da Igreja Pentecostal do
Brasil.
Além de várias igrejas tradicionais que se “renovaram”.
Igreja
Batista Nacional – 1963 – dissidente da Igreja Batista;
Igreja
Metodista Wesleyana – 1962 – RJ – Gessé Teixeira de Carvalho saiu da Igreja
Metodista do Brasil;
Igreja
Presbiteriana Renovada – 1968 – saiu um grupo da IPB organizou a Igreja
Cristã Presbiteriana; um seguimento separou-se da IPI – 1972 – para formar a
Igreja presbiteriana Independente Renovada; as duas formaram a Igreja
Presbiteriana Renovada em 1975.
3ª Onda
– Início do movimento neopentecostal.
Igrejas
oriundas do movimento pentecostal começaram no final da década de 1970 e ganhou
força na década de 1980.
A ênfase é
o dinheiro e a prosperidade.
Igreja
Universal do Reino de Deus – 1977 – RJ – Edir Macedo Bezerra;
Igreja
Internacional da Graça de Deus – 1980 – RJ – Romildo Ribeiro Soares,
oriunda da IURD, cunhado de Edir Macedo;
Igreja
Apostólica Renascer em Cristo – 1986 – SP – Estevam Hernandes e Sônia
Hernandes oriundos da Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia;
Comunidade
Sara Nossa Terra – 1994 – DF – Robson Rodovalho;
Igreja
Mundial do Poder de Deus – 1998 – SP – Valdemiro Santiago oriundo da IURD.
Há
diferenças significativas nessa terceira onda, o neopentecostalismo, e os
outros movimentos carismáticos.
Primeiro
– O dinamismo de novas campanhas, novos símbolos de bênção (rosa ungida, águas
que saram, fogueira santa), novos títulos ministeriais (de bispos para
apóstolos, para patriarcas) são coisas que atraem as pessoas.
Segundo
– Há o abandono dos usos e costumes. Vestimentas e diversões específicas não
são mais proibidas. O neopentecostalismo atrai muitos interessados em comprar e
manter seus objetos de luxo.
Terceiro
– O uso da mídia. Em vez de evangelização por folhetos, ou do uso da rádio, o
neopentecostalismo investe pesado na televisão.
Esse
movimento chama atenção para a busca da prosperidade.
II – A hermenêutica da prosperidade.
Hermenêutica
é o modo correto de interpretar as Sagradas Escrituras.
A maneira
de lidar com as Escrituras é fundamental para compreender o movimento
neopentecostal.
Entre eles
não existe uma exposição das Escrituras.
Textos
bíblicos são tirados do contexto para sustentar suas posições.
Falta de
exposição da Bíblia promove a superficialidade da fé e no conhecimento bíblico
(não é o caso de muitos pentecostais).
A
superficialidade faz com que muitos se tornam presas fáceis de heresias – contrário
à verdade.
As
tendências heréticas e as inovações doutrinárias surgem porque cada pastor
neopentecostal é livre pensador; não há confissão explicitada.
O
neopentecostalismo não nutre simpatia pela educação teológica, algo que tem
mudado nos meios pentecostais.
As
conversas com Deus dá a impressão de que os líderes possuem um canal de
comunicação superior à Bíblia.
Eles são isentos de aplicar qualquer método de
interpretação bíblica. Em vez de uma hermenêutica científica, criou-se uma hermenêutica
pragmática onde a ordem é espiritualizar (regra, padrão) e fazer alegoria (representação
figurativa); a experiência precede e norteia a exegese (interpretação
minuciosa).
Exemplo:
Os sete mil que não se dobraram a Baal podem ser, hoje, as sete mil pessoas que
precisam doar.
O
interesse mercantilista move os líderes a uma demasiada cobrança de ofertas aos
fiéis, em troca eles oferecem soluções divinas para os problemas dos devotos.
Jesus não
é alguém que viveu em pobreza.
Ex-pastor
Igreja Mundial – testificou que, devido às metas financeiras, e à cobrança de
resultados (eles eram ameaçados de ser colocados em igrejas “no meio do mato”.
Os
pastores são treinados a distorcer textos bíblicos para:
Obter a
‘dupla honra’ de Is.61.7 e para que isso ocorra é preciso dobrar o dízimo e
ofertar mais 10% ,’ o ‘tridízimo’, 30%. Só assim será possível ‘comer o melhor
da terra’, Is.1.19.
A promessa
é atrelada à obediência em contribuir e um retorno à prática da ‘indulgência’.
É uma transação financeira com Deus.
Eles têm
preferência mais pelo A.T. do que o N.T.
Os vários
símbolos do A.T. (óleos, arca, trombetas, candelabro, fogueira, são constantes
nas campanhas). Esses objetos são distribuídos conforme as ofertas.
A crença
de que os objetos são imbuídos de poder se aproxima da crença de cultos
afro-brasileiros.
A crença
neopentecostal de que esses objetos auxiliam a fé – Edir Macedo os considera
‘pontos de contato’ para despertar a fé dos mais fracos.
Durante a
Reforma protestante os católicos diziam o mesmo sobre os vitrais e imagens
dentro da igreja.
Todo esse tipo de cultuar a Deus é
condenável assim como “[...] alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver
de tua parte algum sinal. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede
um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque
assim como esteve Jonas três dias e três noites no
ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites
no coração da terra. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a
condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está
quem é (Jesus) maior do que Jonas. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com
esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a
sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é (Jesus) maior do que Salomão”, Mt.12.38-42.
III – A influência da confissão positiva.
As
pregações neopentecostais estão cheias e confissões positivas.
Isto se
refere à crença de que, sendo a fé uma confissão, as palavras têm poder de
trazer coisas à existência; uma espécie de imitação das palavras criadoras de
Deus.
O
nascedouro desse conceito surgiu com o norte-americano Essek Willim Kenyon, o
qual sofreu influência da ciência cristã que explica que toda causa e efeito
como mental, não física.
Escritos
de Kenyon inspirou o evangélico norte-americano Kenneth Hagin popularizasse
essa teologia.
Dentre os
propagadores estão: Benny Hinn, Kenneth Copeland, Robert Schuler e Paul Yonggi
Cho.
No Brasil,
R.R. Soares e René Terra Nova – Ministério Internacional da Restauração.
Todos eles
creem que crentes não devem ficar doentes porque a expiação de Cristo livrou-os
das enfermidades.
Quando a Bíblia fala que “certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si [...] (e que) [...]
pelas suas pisaduras fomos sarados”, Is.53.4,
5, eles entendem que não se referem à enfermidade.
Doenças são sempre causadas por
agentes espirituais, provêm do diabo.
A cura sempre está atrelada à fé.
A confissão positiva é a maneira de
vencer as forças malignas, à medida que se busca saúde e prosperidade; as
bênçãos são declaradas com palavras de poder.
A linguagem de vitória é usada na
área financeira. Crer que um Deus poderoso não pode redundar em vida mesquinha
e miserável.
É preciso se revoltar contra o
espírito que causa a situação.
A libertação dos espíritos malignos
é mais causada pelo esforço humano, para depois obter as bênçãos de Deus.
Essa teologia comete equívocos com
vários textos bíblicos.
Eles declaram que “[...] tudo quanto pedirmos em
nome (de) Jesus, isso (Ele) fará, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho.
Se pedirmos (a) Jesus alguma coisa em seu nome, ele o fará. (Só que eles se esquecem
de comparar com outro texto que fala:) E esta é a confiança que temos para com
ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E,
se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que
obtemos os pedidos que lhe temos feito”,
Jo.14.13, 14; 1Jo.5.14, 15.
João 14.12 é entendido pelos
neopentecostais qualitativamente e não quantitativamente, quando fala: “Em verdade, em
verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto
do Pai”, Jo.14.12.
Isto é, eles alegam poder para fazer
coisas mais fantásticas que Jesus quando, na verdade, ele quis dizer que
teríamos maior alcance do que ele teve, estando só na Palestina.
O texto de Isaías ao dizer que “certamente, ele
tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido”, Is.53.4, não é compreendido escatologicamente, como se cumprindo
plenamente quando experimentarmos a redenção do nosso corpo, a qual “[...] aguardamos
a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”,
Rm.8.23 no dia final.
Toda esse desvio doutrinário é [...]
IV – Um problema mais profundo.
A busca da prosperidade física e
material não é apenas resultado de uma interpretação bíblica equivocada e uma
teologia desvirtuada.
O problema está na desobediência de “não acumular para nós [...]
tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; (daí, nos esquecemos de) [...] ajuntar para nós [...] tesouros
no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam;
porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”, Mt.6.19-21.
A razão de essas igrejas estarem
cheias é porque há, não só entre os líderes, mas também o povo, um desejo de
prosperidade de tal magnitude que não podemos deixar de chamar de idolatria.
Querendo eles aceitar ou não, “[...] a
avareza [...] é idolatria”, Cl.3.5.
Ao dizerem que precisam de muita fé
para ter vitória financeira ou física e a solução de problemas e conflitos, são
tendência de quem se esquece do porvir.
Aquilo que é passageiro tomou lugar
do que é eterno. Muitos não conseguem esperar a felicidade futura e, assim, não
têm forças para suportar as aflições deste mundo.
O texto base fala que, “se alguém ensina outra doutrina e
não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino
segundo a piedade”, 1Tm.6.3, ele está fora do
padrão bíblico.
Essa pessoa “é enfatuada (orgulhosa), nada
entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras (defende o líder),
de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas”, 1Tm.6.4.
A situação é tão agravante que tanto
os líderes quanto os seguidores são “altercadores (discussão violenta) sem fim, por homens cuja mente é
pervertida e privados da verdade (por falta de conhecimento), supondo que a
piedade (reverência, respeito a Deus, religião) é fonte de lucro”, 1Tm.6.5.
Paulo reconhece que “de fato, grande fonte de lucro é
a piedade (reverência, respeito a Deus, religião) com o contentamento”, 1Tm.6.6.
A explicação bíblica é “porque nada temos trazido para o
mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”,
1Tm.6.7.
Muitos líderes carismáticos e seus
seguidores esquecem que, “tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”, 1Tm.6.8.
O grande problema dessas pessoas é
que, quando “[...]
querem ficar ricas caem em tentação (teste, prova), e cilada (armadilha), e em
muitas concupiscências (forte e continuado desejo de fazer ou de ter o que Deus
não quer que façamos ou tenhamos, por isso elas são) insensatas (sem juízo) e
perniciosas (nocivo), as quais afogam os homens na ruína e perdição”, 1Tm.6.9.
Os noticiários mostram que muitos
têm “[...] amor (ao)
dinheiro (mas eles se esquecem de que ele) é (a) raiz de todos os males; e
alguns, nessa cobiça (desejo), se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram
com muitas dores”, 1Tm.6.10.
O desejo bíblico é que, não somente “[...] o homem de Deus (pastores,
mas também os crentes em geral, aprendam a) [...] fugir destas coisas; antes, (é
nosso dever) seguir a justiça (de Deus), a piedade (temor a Deus), a fé, o
amor, a constância (nos caminhos de Deus), a mansidão”, 1Tm.6.11.
Faz-se necessário também, “combater o bom combate da fé (defender).
Tomar posse da vida eterna (santificação), para a qual também fomos chamados e
de que fizemos a boa confissão perante muitas testemunhas”, 1Tm.6.12.
O desejo de “[...] Deus [...] (é) que (eu e
você possamos) preservar a vida de todas as coisas, e perante Cristo Jesus,
que, diante de Pôncio Pilatos, fez a boa confissão (ou seja, não negar a fé em
Deus)”, 1Tm.6.13.
A nossa perseverança ou, o “[...] guardar-se (conforme) o
mandato imaculado (sem mancha), irrepreensível, (precisa acontecer) até à
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”,
1Tm.6.14.
Esse nosso encontro com Cristo se
dará “[...] em sua
época determinada, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos
reis e Senhor dos senhores”, 1Tm.6.15, quando
o Pai o revelar.
Será tão glorioso esse dia porque
vamos nos encontrar com “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível (não
pode chegar), a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e
poder eterno. Amém!”, 1Tm.6.16.
Esse deve ser o destino de todo
cristão.
Para encerrar o texto [...]
Conclusão: Paulo envia um recado para todos aqueles
que buscam desesperadamente a prosperidade.
Paulo os “exorta (trazer para perto) aos
ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua
esperança na instabilidade da riqueza (ela passa), mas em Deus, que tudo nos
proporciona ricamente para nosso aprazimento”,
1Tm.6.17.
Cada um deve, ao invés de buscar
riqueza neste mundo, “[...]
praticar o bem, ser rico de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir”, 1Tm.6.18.
É nosso dever “[...] acumular para (nós) [...] mesmos
tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarmos da
verdadeira vida (com Cristo Jesus)”, 1Tm.6.19.
Aplicação: As nossas petições estão mais focadas no
presente ou no futuro?
Adaptado
pelo Rev. Salvador P. Santana para ED – Nossa Fé – CCC – Rev. Heber Carlos
de Campos Jr.
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