Introd.: A
Ceia do Senhor é um meio de graça para conferir aos crentes o sustento e o
fortalecimento da fé necessários à nossa vida, ao nos comunicar Cristo como
nosso Redentor e Salvador.
A
Ceia nos une a Jesus, de quem dependemos totalmente.
A
doutrina da união mística do crente com Cristo é fundamental para compreender a
presença real e espiritual do nosso Salvador na Ceia do Senhor, bem como as
implicações dessa realidade que se apresentam vitalmente na comunhão com
Cristo.
1 – A união
mística com Cristo.
O
sacramento do batismo é o sinal externo de uma realidade interna, diz respeito
de que fomos “[...] recebidos
[...] (para) sermos feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome”,
Jo.1.12.
Coube
ao Senhor nos sustentar como um pai age com seus filhos, ao nos prover um
alimento espiritual que nos serve como meio de graça e de sustento, eis o
motivo Jesus dizer: “Eu sou o
pão da vida”, Jo.6.48.
Esse
banquete espiritual é a Ceia do Senhor, que nos apresenta a Cristo como o
verdadeiro alimento que fortalece nossa alma, comprovando a presença real dele
na ordenança divina, que nos une ao Senhor.
João
fala que “este (Jesus) é o pão
que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça (tenha viva
eternamente)”, Jo.6.50.
Calvino
aponta que “[...] esse mistério da secreta união de Cristo com os piedosos é
por natureza incompreensível [...]”. (Institutas, IV.17.1)
C.M.
– Qual é a união que os eleitos têm com Cristo? É a obra da graça de Deus, “porque pela graça somos salvos,
mediante a fé; e isto não vem de nós; é dom de Deus”, Ef.2.8.
Essa
união que o crente possui com o Senhor é unicamente uma obra divina, pela ação
do Espírito Santo de Deus “porque
[...] Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo”,
Ef.5.23.
Teologia
Sistemática – Essa união é espiritual e mística, união íntima, vital e espiritual
entre Cristo e o seu povo, em virtude da qual ele é a “[...] fonte (da qual, aquele) [...] que beber da água
que Ele [...] der nunca mais terá sede [...]”, Jo.4.14.
A
união com Cristo é reflexo da sua obra de redenção, ao nos imputar (passar para
conta de alguém) a Ele sua justiça e seus benefícios – a vida eterna e a
participação em uma nova humanidade.
Cristo
é o nosso representante junto ao Pai, pois Ele mesmo se apresentará diante do
Pai dizendo: “[...] Eis aqui
estou eu e os filhos que Deus me deu”, Hb.2.13.
Características
principais dessa união com Cristo – Berkhof:
1
– União orgânica: Juntamente com Cristo, os crentes formam um só
corpo, porque “Jesus é a
videira, nós, os ramos [...] (e) os nossos corpos são membros de Cristo [...]”,
Jo.15.5; 1Co.6.1;
2
– União vital: Cristo é o princípio de vida dominante no crente.
Isto porque, “se, porém, Cristo
está em nós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça”, Rm.8.10;
3
– União mediada pelo Espírito Santo: Por meio do Espírito Santo,
que fora derramado no Pentecoste, Cristo habita no crente, porque, “[...] aquele que se une ao Senhor é
um espírito com ele”, 1Co.6.17;
4
– União recíproca: Cristo une os crentes, regenera, e produz a fé
necessária à salvação.
A
garantia da continuidade dessa união é por meio da ação do Espírito Santo,
quando eu e você “[...] amamos,
guardamos a [...] palavra (de) Jesus; e seu Pai (nos) [...] amará [...]”,
Jo.14.23;
5
– União pessoal: Como consequência da regeneração outorgada por
Cristo, todos os crentes estão unidos pessoalmente e diretamente ao seu Senhor,
logo, devemos “[...] conhecer
que Jesus está em seu Pai, e nós, em Jesus, e Jesus, em nós”, Jo.14.20;
6
– União transformadora: Por meio desta união, os crentes são “[...] predestinados para serem
conformes à imagem de seu Filho [...]”, Rm.8.29 – Teologia Sistemática.
É
por este motivo que Jesus fala: “Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna”,
Jo.6.47.
2 – A
presença real e espiritual de Cristo na Ceia.
A
presença espiritual de Cristo na Ceia é algo tão concreto quanto se ele
estivesse presente em pessoa e o víssemos com nossos próprios olhos, e o
tocássemos com nossas mãos – Calvino.
Mt.26.26-28,
fala da instituição da Ceia do Senhor.
Calvino
comenta:
Ao
ordenar “[...] tomar (significa
que é nosso; ao mandar) [...] comer (significa que se faz uma só substância
conosco; ao declarar que, em relação ao) [...] corpo (foi entregue por nós, em
relação ao) [...] sangue (foi derramado por nós, nisso ensina que ambos eram
não tanto seus quanto nossos, porque a um e outro não só tomou, mas também
entregou, não para seu próprio proveito, mas para nossa salvação) [...] em
favor de muitos, para remissão de pecados”, Mt.26.26-28.
A
Ceia do Senhor é tal como “nossos
pais comeram o maná no deserto e morreram”, Jo.6.49.
Hoje,
como “Jesus é o pão vivo que
desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que Ele dá
pela vida do mundo é a sua carne”, Jo.6.51.
CM,
169 – “Como Cristo ordenou que o pão e o vinho fossem dados e recebidos nos
sacramentos da Ceia do Senhor?”
“Cristo
ordenou que os ministros da Palavra, na administração desse sacramento,
separassem o pão e o vinho do uso comum, pela palavra da instituição, ações de
graças e oração; que tomassem e partissem o pão e dessem, tanto este como o
vinho, aos comungantes, os quais, pela mesma instituição, devem tomar e comer o
pão e beber o vinho, em grata recordação de que o corpo de Cristo foi partido e
dado, e o seu sangue derramado por eles”.
A
instituição da Ceia do Senhor é divina, sendo o próprio Cristo quem determinou
à sua igreja.
Os
dois elementos apontam a representação da natureza humana, que Cristo tomou
quando “[...] o Verbo se fez
carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade [...]”, Jo.1.14.
Na
instituição da Ceia, há alguns atos sacramentais, que simbolizam verdades
espirituais – Geerbhardus Vos:
1
– Jesus tomou o pão e o cálice da mesa em que a refeição da Páscoa havia sido
partilhada, significando que tomara da natureza humana (corpo e alma) ao nascer
nesse mundo, em Belém;
2
– Jesus abençoou, ou deu graças pelo pão e vinho, separando-os dos usos comuns
para um propósito religioso especial.
Este
ato significa a separação do nosso Salvador para a sua obra especial, como
Redentor dos homens, quando foi batizado por João;
3
– Ele partiu o pão, num ato que significava o partir do seu próprio corpo
pregado à cruz e traspassado.
Este
ato lembra-nos de que não somos salvos somente pelos ensinamentos de Jesus nem
pela sua vida, mas pela superioridade da sua morte na cruz;
4
– Ele deu o pão e o vinho aos seus discípulos, significando o dom de Cristo a
homens pecadores, pela infinita graça, Jo.3.6, e a pregação do evangelho em que
esse dom divino Salvador é ofertado aos pecadores – CM comentado – Ed. Os
puritanos.
“Os
discípulos tomaram o pão e o cálice, que significa receber a Jesus como
Salvador ao crer nele”.
“E
comeram o pão e beberam o vinho, representando a dependência de Cristo para a
vida e o crescimento espiritual” – CM – comentado.
CM
– 170 – “Como se alimentam do corpo e do sangue de Cristo, os que dignamente
participam da Ceia do Senhor?”
“Assim
como o corpo e o sangue de Cristo não estão, nem corporal, nem carnalmente,
presente no pão, com o pão, ou debaixo do pão e do vinho, na Ceia do Senhor,
mas sim espiritualmente na fé do comungante, não de maneira menos verdadeira e
real do que estão os mesmos elementos aos seus sentidos exteriores”.
“Os
que dignamente participam do sacramento da Ceia do Senhor nela se alimentam do
corpo e do sangue de Cristo, não de uma maneira corporal e carnal, mas
espiritual, contudo de modo verdadeiro e real, visto que pela fé recebem e
aplicam a si o Cristo crucificado e todos os benefícios da sua morte”.
Jesus
Cristo está fisicamente no céu e não se transporta para os elementos a Ceia,
contudo, está presente em realidade nos elementos e comunica os benefícios
salvíficos aos crentes, mas sua presença é espiritual.
Essa
comunicação de benefícios ocorre por meio da ação do Espírito Santo de Deus
àqueles que estão em união mística com Cristo.
O
crente recebe a concretização das promessas contidas nessa ordenança quando
toma os elementos e pela fé compreende o seu significado e a realidade que
apontam.
3 –
Implicação da comunhão com Cristo.
A
realidade de sermos o corpo de Cristo e estarmos a ele unidos de modo místico,
o que é revigorado por meio da participação da Ceia, aponta a implicação
natural do cuidado que o Senhor tem dispensado a todos nós.
Paulo
fala que “Jesus é a cabeça do
corpo, da igreja [...]”, Cl.1.18.
Todo
comando está em Cristo Jesus.
“[...] Jesus é o princípio, o
primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia”,
Cl.1.18.
Jesus
é soberano sobre todas as coisas criadas, porque “[...] tudo foi criado por meio dele e para ele”, Cl.1.16.
Aquele
que tem comunhão com Cristo sabe que “[...]
aprouve a Deus que, nele (Jesus), residisse toda a plenitude (do próprio Deus
para beneficiar a igreja)”, Cl.1.19.
Veja
que, a comunhão com Cristo se estabelece depois de “[...] haver feito a paz pelo sangue da sua cruz, por
meio dele (Jesus), reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a
terra, quer nos céus”, Cl.1.20.
Cristo
é o Senhor e o sustentador da igreja, pois “[...]
ele a comprou com o seu próprio sangue”, At.20.28.
A
igreja recebe do seu Senhor toda a vida necessária à sua existência porque “Jesus é a videira verdadeira, e seu
Pai é o agricultor”, Jo.15.1.
É
o próprio Jesus que conduz a igreja a “[...]
adorar o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para
seus adoradores”, Jo.4.23.
Devemos
a “[...] Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo [...] toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo”, Ef.1.3.
A
comunhão com Cristo nos apresenta que “[...]
nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade (sendo assim o único
capaz de nos fortalecer para a vida eterna)”, Cl.2.9.
Conclusão: A
Ceia do Senhor é um banquete espiritual que nos aponta a realidade da presença
espiritual de Cristo e todos os seus benefícios, que os crentes recebem ao
participar dessa ordenança.
Cristo
sendo o cabeça da igreja, dela cuida, sustenta e fortalece.
Aplicação: Ter
consciência da presença real de Cristo na Ceia do Senhor faz diferença no modo
como você participa dela?
Adaptado
pelo Rev. Salvador P. Santana para E.D. – O
batismo e a Ceia do Senhor – Palavra Viva – Rev. Christian Brially Tavares de
Medeiros – ECC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário