terça-feira, 9 de novembro de 2021
Is.58.5, 6 - JEJUM BÍBLICO
Jejum bíblico, Is.58.5, 6.
Adaptado pelo Rev. Salvador P. Santana para estudo de autoria do Rev. Sylas Dennuci (In Memoriam – IPB-Americana/SP.
“Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?”, Is.58.5, 6.
Introdução – A palavra Jejum (do Latim jejunu) significa abstinência ou redução de alimentos por alguma razão.
Exemplos: Por determinação médica, para tratamento da saúde, para submeter-se a exame de laboratório.
O jejum bíblico
I. Etimologia e significado – O termo hebraico para jejuar é “SUM” (inclinar a alma ou afligir a alma) significando, no AT, auto-humilhação. É ato religioso, intensificando e tornando mais eficaz a Oração.
Jejum quer dizer a abstinência total ou parcial de comida e bebida, às vezes também das relações sexuais.
Era recomendado em provações graves quando “... a casa de Israel... (guardava) os deuses estranhos e os astarotes... (daí a única solução é) preparar o coração ao SENHOR, e servir a ele só, e ele nos livrará das mãos dos filisteus (inimigos) ... jejuaram aquele dia e ali disseram: Pecamos contra o SENHOR...”, 1Sm.7.3, 6.
O jejum deve ser “promulgado (como) um santo jejum, (pode) convocar uma assembleia solene, congregar os anciãos, todos os moradores desta terra, para a Casa do SENHOR, nosso Deus, e clamar ao SENHOR.”, Jl.1.14.
Esse caráter de auto-humilhação explica também a praxe do jejum depois de um falecimento quando “tomaram os ossos (de Saul e seus filhos), e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias.”, 1Sm.31.13.
Antes de receber a revelação de Deus sobre o findar do cativeiro babilônico, Daniel “voltou o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza.”, Dn.9.3.
A lei mosaica estabelece apenas um dia de Jejum, o grande dia da expiação, “no dia dez deste sétimo (entre setembro e outubro) mês, tereis santa convocação e afligireis a vossa alma; nenhuma obra fareis.”, Nm 29:7.
Na viagem de Paulo para Roma, “depois de muito tempo, tendo-se tornado a navegação perigosa, e já passado o tempo do Dia do Jejum, admoestava-os Paulo,”, At.27.9.
Após o cativeiro foram introduzidos mais quatro dias de jejum, “... o jejum do quarto mês, e o do quinto, e o do sétimo, e o do décimo serão para a casa de Judá regozijo, alegria e festividades solenes...” Zc.8.19 em comemoração de calamidades nacionais.
Podia-se jejuar também pela própria iniciativa.
Antes e durante o cativeiro Deus reclamou de que “quando (eles) jejuavam, Ele não ouviu o seu clamor e, quando trouxessem holocaustos e ofertas de manjares, Deus não se agradava deles; antes, Deus os consumiu pela espada, pela fome e pela peste.”, Jr.14.12.
Por causa dos nossos pecados muitas vezes “... jejuamos nós, e Deus não atentas para isso... afligimos a nossa alma, e Deus não o levas em conta... eis que, no dia em que jejuamos, cuidamos dos nossos próprios interesses e exigimos que se faça todo o nosso trabalho.”, Is.58.3.
No N.T. lemos “... os fariseus jejuavam [muitas vezes] ...”, Mt.9.14, “... duas vezes por semana...”, Lc.18.12, a ponto de merecer as críticas de Jesus; “quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”, Mt.6.16-18.
II – Exemplos bíblicos
Moisés “... ali, esteve com o SENHOR quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água; e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras.”, Ex.34.28;
“Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra.”, 2Sm.12.16;
Elias com medo de Jezabel, depois de ter ido para o deserto “levantou-se, pois, comeu e bebeu; e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.”, 1Rs.19.8.
Quando o exército Sírio veio contra “... Josafá teve medo e se pôs a buscar ao SENHOR; e apregoou jejum em todo o Judá.”, 2Cr.20.3.
Neemias “... se ajuntou (com) os filhos de Israel com jejum e pano de saco e traziam terra sobre si.”, Ne.9.1 estando em Jerusalém para reconstrução dos muros.
Ester, depois da ordem do rei de matar o povo Judeu, ela pediu para Mordecai “... ajuntar a todos os judeus... em Susã... (que) jejuem por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci.”, Et.4.16.
Joel fala que a nossa “... conversão a Deus (deve ser) de todo o nosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto.”, Jl.2.12.
Jesus “... jejuou quarenta dias e quarenta noites, teve fome.”, Mt.4.2.
Para “... servir... ao Senhor... (é preciso) jejuar... (para ser) separado... para a obra a que Deus os tem chamado.”, At.13.2
Para “... a eleição de presbíteros... (é necessário) orar com jejuns...”, At.14.23.
III – Por que jejuar?
1. Jejuar por ocasião de crise Nacional
Israel é o grande exemplo, principalmente no caso de Ester que pediu: “Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci.”, Et.4.16.
O rei “... Josafá teve medo (da multidão de Moabe e Amom) e se pôs a buscar ao SENHOR; e apregoou jejum em todo o Judá.”, 2Cr.20.3 daí, “... o SENHOR disse... (:) Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus.”, 2Cr.20.15.
Quando Esdras liderou a reforma na volta do cativeiro, “... apregoou ali um jejum... para... humilhar perante... Deus, para lhe pedir jornada feliz...”, Ed.8.21.
2. Jejuar pelos nossos próprios problemas
Quando Jesus desceu do Monte da Transfiguração aproximou-se dele um homem que lhe pediu a cura do filho.
“... Os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram... por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? ... por causa da pequenez da vossa fé...[mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum.]”, Mt. 17:19-21.
Quando Daniel se achava diante de obstáculos espirituais, ele resolveu “naqueles dias... prantear durante três semanas. Manjar desejável não comeu, nem carne, nem vinho entraram na sua boca, nem se ungiu com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras.”, Dn.10.2, 3.
A resposta de Deus: “... Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim.”, Dn.10.12.
O jejum fortalece o espírito, diminuindo a influência que a carne exerce sobre nós.
Ajuda-nos a recordar as palavras de Cristo ao dizer: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mt.6.33.
A oração e o jejum geram poder espiritual.
3. Jejuar em períodos de grande aflição
Houve guerra entre Israel e a tribo de Benjamim daí, a solução foi “... todos os filhos de Israel, todo o povo, subiram, e vieram a Betel, e choraram, e estiveram ali perante o SENHOR, e jejuaram aquele dia até à tarde; e, perante o SENHOR, ofereceram holocaustos e ofertas pacíficas.”, Jz.20.26.
Israel abandonou os deuses estranhos e logo “congregaram-se em Mispa, tiraram água e a derramaram perante o SENHOR; jejuaram aquele dia e ali disseram: Pecamos contra o SENHOR...”, 1Sm.7.6.
“... Todas as vezes que Ana subia à Casa do SENHOR, a outra a irritava; pelo que chorava e não comia.”, 1Sm.1.7 para Deus resolver o seu problema.
“Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra.”, 2Sm.12.16.
Depois da investida de Hamã contra os Judeus, “em todas as províncias aonde chegava a palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza.”, Et.4.3.
O jejum nos abençoa na intercessão.
4. Jejuar antes de tomar grandes decisões de caráter espiritual
“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.”, Mt.4.1 antes de iniciar o seu ministério.
Antes da obra missionária, a Igreja Primitiva “... serviu... ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.”, At.13.2.
Decisões espirituais que vamos tomar estarão provocando as trevas. Precisamos de orientação e poder divino para orientação e trabalho.
No jejum somos quebrantados e preparados pelo Senhor.
IV – Ensino bíblico sobre o jejum
Infelizmente há muita confusão em torno desse assunto. Precisamos ser cautelosos e evitar sensacionalismo. Por outro lado, grandes bênçãos são perdidas por falta de conhecimento do assunto.
1. Tipo de jejum
a) O jejum típico - A Bíblia ensina que o jejum normal consiste em abster-se totalmente de alimento sólido. Esse jejum não implica em abstinência de líquidos. No caso de Jesus “... depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.”, Mt.4.2 a Bíblia não menciona que ele teve sede. Seria fisicamente impossível jejuar 40 dias e 40 noites sem ingerir liquido.
b) O jejum completo – Também chamado de jejum absoluto, consiste na abstinência de alimento e água quando Paulo “esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu.”, At.9.9.
Trata-se de um jejum rigoroso e pode até apresentar perigo. Ninguém deve fazer um jejum total por mais de um dia. Além disso, aquele que tem problema de saúde deve conversar com o médico antes de fazer um jejum completo.
c) Jejum parcial – Tem várias aplicações e é caracterizado pelo que se come e pela frequência com que se come.
Em primeiro lugar, o jejum parcial significa abster-se de certos alimentos. Alguns estudiosos interpretam a atitude de “resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se. Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se nos deem legumes a comer e água a beber.”, Dn.1.8, 12 como jejum parcial.
João Wesley, ao jejuar, em várias ocasiões comia apenas pão.
Em segundo lugar, o jejum parcial implica em abster-se de alimentos durante um certo período de tempo. O jejum comum praticado no A.T. começava ao pôr do sol e estendia-se até o pôr do sol do dia seguinte.
2. Duração do jejum
Na maioria das vezes durava apenas um dia (do pôr do sol até o pôr do sol do dia seguinte). A pessoa não comia nada a noite, e nem se alimentava durante o dia seguinte.
“... Jejuaram aquele dia até à tarde...”, Jz.20.26.
“... Maldito o homem que comer pão antes de anoitecer...”, 1Sm.14.24.
“... Jejuaram até à tarde...”, 2Sm.1.12.
“... Davi jurou, dizendo: Assim me faça Deus o que lhe aprouver, se eu provar pão ou alguma coisa antes do sol posto.”, 2Sm.3.35.
Quando Daniel foi colocado na cova dos leões “... o rei Dario se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum... e fugiu dele o sono.”, Dn.6.18.
Ester convocou um “... jejum... não comendo, nem bebendo por três dias, nem de noite nem de dia... se perecer, pereci.”, Et.4.16.
Existem apenas três ocasiões em que há menção de um jejum de 40 dias: Moisés, Elias e Jesus.
3. Precauções quanto ao jejum
A prática do jejum apresenta certos perigos para os quais devemos estar prevenidos. Perigos de natureza física se forem muito prolongados.
Se a pessoa não está disposta a entregar-se à oração por longos períodos, durante o jejum, não deve pratica-lo.
A mera privação de alimentos não tem nenhum valor se não for acompanhada por um exercício espiritual das mesmas proporções.
Outro perigo do jejum é o problema da hipocrisia, que às vezes, cerca a questão, “quando jejuamos, não nos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam...”, Mt.6.16.
Outro perigo ainda é o legalismo. Alguns querem que outros jejuem exatamente como eles fazem. Na verdade, a Bíblia não diz quanto tempo devemos jejuar, nem quantas vezes.
A abstinência de alimentos às vezes é associada com a ideia de se fazer boas obras para agradar a Deus, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”, Rm 14.17.
Um último perigo é identificar jejum com espiritualidade. Só por jejuar não se torna mais santo.
V – Como jejuar
Jejuar não significa meramente abster-se de alimentos. Muitas pessoas ficam algum tempo sem ingerir por motivo de saúde, mas isso não significa que estejam jejuando, segundo o padrão bíblico.
Outros jejuam porque desejam emagrecer. Também não é jejum bíblico.
Jejuar envolve também orar, fazer leitura bíblica, arrepender-se e fazer uma sondagem no coração.
Para que o jejum tenha valor para Deus, é preciso que tenha um objetivo espiritual – crescimento, transformação, ministério.
A Bíblia não determina quantas vezes devemos jejuar, nem o tempo de duração.
Não existe nenhuma referência com regulamentação específica sobre o assunto. Entretanto, isto não significa que o jejum deva ser ignorado. Quando alguém sente uma necessidade espiritual, é perfeitamente correto jejuar.
Podemos concluir, então que, como todos nós temos problemas e dificuldades, devemos todos jejuar de vez em quando, devemos, porém, faze-lo de livre vontade, após buscar orientação de Deus.
Quando nos dedicamos a um dia de jejum, Satanás também toma conhecimento disso. Ele ataca com todas as potestades do inferno. Sentimos um grande desejo de comer, nem que seja um simples pedaço de pão. Nem sempre estamos com fome; é que Satanás quer que se quebre o voto feito de jejuar.
“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.”, Ec.5.4.
“Quando um homem fizer voto ao SENHOR ou juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará.”, Nm.30.2.
“Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti.”, Dt.23:21, 22
1. Antes de jejuar
a) Determine previamente o tempo de duração do jejum. De preferência um dia.
b) Comece abstendo-se de alimento sólidos, mas ingerindo líquidos.
c) Planeje passar boa parte do tempo em oração e leitura bíblica.
d) Comece tendo no coração o exame para arrependimento, “Chorei, em jejum está a minha alma, e isso mesmo se me tornou em afrontas.”, Sl.69.10.
e) Examine-se e peça perdão, “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”, 1Jo.1.9.
f) Ore incessantemente, faça pedidos específicos, “orando sem cessar.”, 1Ts.5.17.
g) Leia, reflita nas Escrituras.
h) Faça do jejum um tempo de adoração a Deus – exemplo de Ana, “... que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações.”, Lc.2.37.
VI - A quebra do jejum
Quem jejua de maneira correta, deve encerrar o período de abstinência de maneira bíblica.
Não se concebe que um crente esteja num espírito de oração e súplica num dado momento, e no seguinte entre numa atmosfera de total despreocupação.
Com referência ao aspecto físico, como o estomago se acha totalmente vazio após o jejum, é importante que se saiba quebrar o jejum.
Pessoas passam mal por ingerirem alimentos demais ou inadequados para o momento.
A sugestão é que a quebra do jejum seja feita com alimentação leve (sopa, saladas ou lanches bem leves).
Conclusão
1. O jejum deve levar-nos à tarefa de ganhar almas, de contribuir sacrificialmente, ou qualquer outra forma de serviço a Deus.
2. O valor do nosso jejum é medido pelo empenho que demonstramos no serviço cristão, depois que o encerramos. Jesus disse: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”, At.1.8.
O jejum deve nos ajudar a ser testemunhas melhores, fazendo de nós ganhadores de almas mais eficazes.
Rev. Salvador P. Santana
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