quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
Ec.1.1-11 - A LUTA PELA VIDA.
A LUTA PELA VIDA, Ec.1.1-11.
A vida tem razão de ser o que é?
Qual é o sentido da vida neste mundo?
Essas indagações têm acompanhado o homem no decorrer de sua existência. Principalmente diante das situações injustas da vida, essa questão perturba qualquer ser humano.
Nenhum de nós tem uma resposta adequada para esse assunto.
Ao olhar para o livro de Eclesiastes, parece não ser o mais apropriado para falar sobre a luta pela vida.
Percebe-se a lucidez da mensagem do Eclesiastes sobre a existência humana e a luta pela vida, mesmo com suas contradições e inquietações.
Precisamos gravar na mente “as coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”, Dt.29.29.
Segundo Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, “o Eclesiastes é convite para destruir e construir. Destruir uma falsa concepção a respeito de Deus e da vida, muitas vezes justificada por concepções teológicas profundamente arraigadas (enraizado). Depois construir uma nova concepção de vida, que é dom gratuito de Deus, para que todos participem com justiça e fraternidade”.
O autor de Eclesiastes se autodenomina “[...] Pregador (Salomão), filho de Davi, rei de Jerusalém”, Ec.1.1, num aparente pessimismo, reflete sobre a vida como uma eterna mesmice, “vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, Ec.1.2.
Para ele a vida é passageira; e sua repetição produz monotonia e tédio.
“[...] O trabalho (humano não) tem (nenhum) proveito [...] com que se afadiga debaixo do sol [...]”, Ec.1.3.
No seu entender, “geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre”, Ec.1.4, então, “[...] tudo é vaidade de vaidade (inútil)”, Ec.1.2.
Ao olhar para o mundo criado por Deus, Salomão dá a entender que este mundo é monótono (não sofre variação), pois “levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo”, Ec.1.5.
Declara que “o vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos”, Ec.1.6.
Fala ainda que “todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr”, Ec.1.7.
Possível que Salomão reflita sobre a realidade da vida do povo de Israel por volta do século III a.C.
Naquele tempo o povo fora subjugado pelos gregos e vivia para pagar pesados impostos.
A vida estava sem horizontes. Imperava a exploração que tirava da vida todas as suas possibilidades.
O povo poderia entrar em desespero. A “palavra do Pregador [...]”, Ec.1.1, então, escreve seu livro com o propósito de defender uma “vida de fé num Deus generoso, enfatizando o horror de outra alternativa” – Eclesiastes e Cantares – Vida Nova.
A importância deste estudo é mostrar que devemos lutar pela vida, mesmo numa situação de exploração, resgatando o valor da existência humana, do trabalho e do mundo criado por Deus.
1 – Povo explorado – trabalho roubado.
Desde os tempos bíblicos o homem convive com aqueles “[...] que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra!”, Is.5.8.
O contexto das “palavras do Pregador [...]”, Ec.1.1 é o de um povo explorado e subjugado, por este motivo, “vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade (inútil)”, Ec.1.2.
Então, diante de tanta exploração, “que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”, Ec.1.3.
Jó, devido a sua enfermidade, perguntou: “[...] por que, pois, trabalho eu em vão?”, Jó 9.29.
Em outro texto, Salomão, percebendo ainda mais a opressão dos grandes sobre os mais pobres, declara: “[...] Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? [...]”, Ec.4.8, ou seja, tudo que faço não me traz prazer e nada ficará em minhas mãos.
Onde há exploração, o trabalho realmente não importa. Faz de qualquer maneira, não se importa com o desperdício.
A felicidade humana está baseada no trabalho e usufruto do mesmo, mas “quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento”, Ec.5.10; 2.17.
Precisamos saber que é o próprio “[...] Deus (que) conferiu ao homem [...] riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus”, Ec.5.19.
É somente através de Deus que podemos conquistar e satisfazer as nossas necessidades de uma vida digna.
Caso o resultado do esforço do trabalho for desviado e explorado, por meio de injustiças, o que ocorrerá é uma frustração, ou seja, o trabalho não terá nenhum proveito, ou, “vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, Ec.1.2.
Segundo Ivo Storniolo, “o povo não tem presente, quando é impedido de usufruir do fruto do próprio trabalho”.
Tiago declara que os “[...] ricos [...] (irão) chorar lamentar, por causa das suas desventuras (desgraça, calamidade, miséria), que (lhes) [...] sobrevirão”, Tg.5.1 devido a exploração aplicada ao próximo.
“As [...] riquezas (deles) estão corruptas, e as suas roupagens, comidas de traça”, Tg.5.2 porque eles “[...] comeram os seus frutos sem tê-los pago devidamente e causou a morte aos seus donos”, Jó 31.39.
É tanta injustiça que “o [...] ouro e a [...] prata (dos ricos) foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra eles mesmos e há de devorar, como fogo, as suas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias”, Tg.5.3 a custa daqueles que lhes serviam como escravos.
É por este motivo “[...] que o salário dos trabalhadores (explorados) que ceifaram os [...] campos (dos ricos) e que por eles foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”, Tg.5.4.
O povo explorado, roubado, foi a causa de os ricos “terem vivido regaladamente sobre a terra; terem vivido nos prazeres; terem engordado o seu coração, em dia de matança”, Tg.5.5.
Não somente a exploração, o roubo, mas também, os ricos “tem condenado e matado o justo, sem que ele [...] faça resistência”, Tg.5.6.
Por toda essa tirania é que Salomão pergunta: “Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”, Ec.1.3.
Isso pode levar o povo a uma situação de revolta.
O trabalho é vilipendiado (desprezado) com a exploração do povo.
A igreja cristã precisa ser agente de transformação dessa realidade.
O fim de uma situação de exploração mostrará todo o valor e a dignidade do trabalho na vida.
A igreja é desafiada a oferecer uma mensagem de esperança, mas ao mesmo tempo, deve apresentar denúncia contra toda injustiça ao dizer como o profeta Isaías: “Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?”, Is.58.6.
O compromisso assumido por Jesus em seu ministério deve pautar a ação da igreja em uma sociedade em que o povo é explorado.
A missão de Jesus e da igreja é de que, “o Espírito do Senhor esteja sobre nós, pelo que (nos) [...] ungirá para evangelizar os pobres; enviar-nos para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor”, Lc.4.18,19.
2 – Povo explorado – vida sufocada.
Diante da situação em que o povo se encontrava, a vida parecia ter perdido seu real valor.
A exploração tira a motivação; e a vida parece perdida, num eterno ciclo repetitivo a tal ponto de dizer: “geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre”, Ec.1.4, “mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”, 2Tm.3.13.
Segundo Euclides Martins Balancin, “a opressão é o espetáculo mais terrível que acontece na sociedade. Quando um sistema é injusto, todos acabam tornando-se vítimas dele, a ponto de ser preferível morrer, ou até mesmo nunca ter nascido”.
O “levantar-se o sol, e por o sol, e voltar ao seu lugar, onde nasce de novo”, Ec.1.5 não incomoda como o espetáculo da tirania.
Todo o dia se percebe que “o vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos”, Ec.1.6 e nenhum mal é causado ao homem.
Ficamos maravilhados ao perceber que “todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr”, Ec.1.7.
Se pudéssemos destruir a opressão, ficaria apenas “todas as coisas (que) são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir”, Ec.1.8.
É a respeito da natureza que Salomão declara: “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol”, Ec.1.9, mas, a respeito da ditadura, ela é especializada a cada dia que passa, daí, ela só progride, por isso “há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós”, Ec.1.10, tanto as maravilhas que Deus fez, quanto a corrupção.
Sempre o homem teve uma mente curta, pois “já não há lembrança das coisas que precederam (corrupção); e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas”, Ec.1.11, ou seja, esquecemos com muita facilidade das maldades que os homens fazem.
Jesus sempre se opôs a qualquer opressão, “[...] veio para que tenhamos vida e a temos em abundância”, Jo.10.10, mas, precisamos estar atentos, pois existem aqueles que querem “[...] roubar, matar e destruir [...]”, Jo.10.10.
A vida perdeu a razão de ser? A injustiça é tanta que tudo parece uma eterna monotonia? O nosso grito deve ser: Não.
Devemos lutar pela vida, porque Cristo nos impulsiona a lutar pela vida, lutar contra toda injustiça e opressão.
3 – Povo explorado – criação desvirtuada (distorcer, deformar).
David Allan Hubbard, afirma que, em Eclesiastes, o sol nos fala de sua causticante melancolia, mas outros enxergavam nele “[...] como herói [...] como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija [...] a percorrer o seu caminho”, Sl.19.5.
Para Salomão o vento era sinal de uma caprichosa melancolia, mas, outros autores, veem que Deus “faz a seus anjos ventos [...]”, Sl.104.4 como mensageiro para executar as ordens eternas.
Para o filho do rei Davi, os rios eram sintomas de futilidade, visto que alimentam o mar sem nunca saciá-lo, mas o salmista lembra que “há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo”, Sl.46.4.
Vivemos dias difíceis, de banalização da vida, de agressões ao meio ambiente, de exploração do homem pelo próprio homem.
Diante de todos esses males presentes na sociedade, podemos ser levados a uma visão pessimista da criação.
Como servos de Deus, embora os homens continuem com suas maldades, precisamos reconhecer “[...] que (o) SENHOR fez com sabedoria (toda a sua) obra [...] (portanto) cheia está a terra das [...] riquezas (de) Deus”, Sl.104.24.
Precisamos continuar [...]
Conclusão: Lutando pela vida tal como “[...] o atleta (que) não é coroado se não lutar segundo as normas”, 2Tm.2.5 de Deus sobre a vida do seu povo.
Adaptado pelo Rev. Salvador P. Santana para estudo bíblico em Escola Dominical – Vida abundante – Didaquê – Rev.
Ailton Gonçalves Dias Filho.
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